domingo, 5 de julho de 2009

Pela janela do trem

Há muito tempo que eu não andava de trem. A paisagem comum na Índia é monótona e não sei dizer muito bem se é porque o tempo parece parar ou por serem quilômetros e mais quilômetros de planícies, pastos e plantações, e por vezes terras áridas como os cerrados e desertos. Quem é ansioso nunca poderia andar de trens comuns por aqui . No Nepal andávamos sempre de ônibus, e lá as estradas são sinuosas com paisagens cheias de montanhas. Além do fato de você poder viajar sobre o teto, o que muda a noção de tempo e a perspectiva de percepção da viagem, já que é bem mais emocionante.

Fico olhando pela janela estes lugares que ninguém quer visitar e sinto constante vontade de descer do trem, caminhar pela paisagem bucólica, descansar debaixo da sombra de alguma árvore.

Poderia ficar dias nesses lugares que não interessam a ninguém. Fazer pic-nic com as crianças, brincar de subir nas poucas árvores, brincar de esconder nas fileiras das plantações.

Dormir ao relento em lugares assim não tem coisa melhor. Nada para perturbar o silêncio que reina de noite e de dia.

Penso que essas "terras de ninguém", são o extremo oposto dos Taj Mahals e "praias douradas de Goa". Sábia decisão a de não ir conhecer esses lugares. Provavelmente tirariam mais a minha paciência, com seu turbilhão humano e futilidades turísticas, do que a monotonia do trem.

Triste pensar que ninguém vê beleza nestes lugares singelos, mas ao mesmo tempo é bom pensar que tenho essa imensidão "só para mim", e se eu quisesse mesmo descer teria esse monte de possibilidades de desfrute para no máximo eu e minha família. Falo isso porque tenho certeza que as raras pessoas que vivem no local também não devem achar graça nenhuma. Mas para mim essa paisagem aparentemente sem graça poderia se transformar numa espécie de éden particular, e eu, Adão com sua Eva e um bando de filhos para povoar o paraíso que só eu acho graça.