sábado, 10 de outubro de 2009

Descobri o caminho da salvação

Sempre fui fanático por cinema, e ao longo da vida posso dizer que apreciei variadas formas dessa arte , de maneira livre e democrática e sem muitos preconceitos. Já chorei de rir e de emoção com o cinema italiano antigo e moderno, curti sem companhia – pois é difícil arrumar interessados - os filmes da nouvelle vague francesa, tive meu deslumbramento com o cinema novo, e claro, nutri-me com os fimes contraculturais, os surrealistas de Buñuel e com o cinema marginal “udigrúdi” (underground brasileiro) dos anos setenta.

Nunca tive um gosto “purista” ou “elitista”, pois creio que sempre dá para tirar alguma coisa dos filmes, salvo exceções. E sendo assim, também me diverti com a “tosqueira” do cinema espanhol - com filmes barangos, dramáticos, passionais e viscerais de diretores como Bigas Luna e Almodóvar – com algumas pornochanchadas cômicas nacionais realmente engraçadas (de tão bizarras) e com comédias americanas que fariam os intelectualóides ficarem de cabelo em pé. Singrei os "sete mares"em busca de milhares de filmes, de Hitchcock à Herzog, de Kurosawa ao Woody Allen, de Bertolucci e Tornatore passando por Milos Forman, Fellini, Truffaut e Polanski. Impossível é desfilar aqui toda a galeria dos meus heróis, já que tive fases de fascinação por “trocentos” diretores diferentes, onde adorava estudar as mentes loucas, criativas e geniais de cada um. Certamente passei muito mais tempo vendo filmes e documentários – apesar de abominar e não ter canais de tv – do que meditando, praticando ou estudando. De forma que nesse “balaio” já passaram fimes de todos os tipos, do drama e romance à comédia e suspense, da ficção inteligente ao terror psicológico. Dos épicos aos filmes de guerra com caráter humano e educativo. Só não suporto os filmes ridículos americanóides de explosão e tiros, todos aqueles com títulos terminados em “al” como “fatal”, “final”, “total”. Tenho como regra não assistir filmes que tenham essas palavras no título. Ficções com a estética de filmes como Apolo 13, Indepedence day ou mesmo o aclamado Matrix me dão urticárias, não assisto nem se for para ganhar dinheiro. Mas sem implicâncias passeei por todas as formas, neo-realismo italiano, expressionismo alemão, filmes holandeses, cinema sueco (ingmar bergman e outros, não vi pornô sueco), cinema mexicano, cinema do oriente médio – especialmente o iraniano. Acho fantástico o novo cinema brasileiro e novo asiático: tailandês, japonês, vietnamita, coreano, chinês – o melhor do continente – outro dia vi um filme do Quirguistão e um do Butão maravilhosos. Como vêem, vejo todo tipo, mas a essa altura os leitores devem estar se perguntando: e o cinema indiano? Alguns devem pensar que o autor do texto esqueceu de mencionar o país que tem a maior produção cinematográfica do mundo, superando os Eua, e que é também a fonte inspiradora desse virtual diário informal de viagens. Não, não esqueci, pois é sobre isso mesmo que resolvi escrever. Citando de forma exaustiva as minhas aventuras cinematográficas, para que ninguém achasse que minha opinião era preconceituosa, ou fruto de uma mente fechada para novas formas de cinema ou expressões culturais diferentes.

Propositadamente não citei o cinema indiano no meio dessas listas, pois não considero os filmes indianos como uma forma de cinema, tal qual as outras, mas como um autêntico caminho de libertação espiritual. Isso mesmo, AUTÊNTICO INSTRUMENTO DE MOKSHA. Mas somente para os heróis ou loucos que conseguirem assistir mais de vinte minutos de um “clássico” de Bollywood – a "hollywood" indiana de Bombaim - sem sofrer danos cerebrais irreversíveis.

Os filmes indianos são como um curto circuito nos sentidos, no bom gosto, no bom senso e no bom humor. São capazes de provocar um estrago na mente de uma pessoa sensata, tal qual um desastroso e despreparado despertar de kundalini, a energia primal, numa pessoa que ainda não está pronta. Já entendi porque a Índia tem tantos iluminados: colocando as massas em peso para assistir ao cinema! Grande parte não resiste ao impacto e sai das salas de cinema como se tivesse passado por uma lobotomia – por isso o indiano parece ser tão abobado (quem pensava que a causa era a desnutrição crônica errou, isso é causado pelos filmes) – e a diminuta parte que conscientemente consegue assistir até o fim do filme com paciência, determinação, boa -vontade e ainda assim resistir até o final da exibição, preservando a lucidez, atinge o prêmio máximo, que pelas bandas de lá é chamada por muitos nomes:nirvana, samadhi, moksha, ananda, kaivalya ou o paraíso, se preferir. Pois cá para nós, haja peito e capacidade para aturar algo tão ruim como aqueles filmes, haja resignação.

Creio fielmente que o cinema é a única das artes que não está em franca decadência, e que continua evoluindo positivamente, e isso acontece desde os movimentos em países com poucos recursos financeiros, até o cinema “blockbuster” dos Eua. De forma geral e ampla, acho que o cinema de todos os lados do mundo só faz melhorar e evoluir. O cinema indiano é a máxima exceção da regra, pois é abominável. Eu poderia passar o resto do texto citando adjetivos pejorativos, mas vamos direto ao ponto, às características mais marcantes: cafona e debilóide! Isso define toda, ou quase toda a produção daquele país.

Reflitam por alguns instantes, fechem os olhos, respirem fundo e pensem numa coisa bem brega, mas bem brega mesmo, pensem na coisa mais cafona e de mau gosto que você já viu na vida – Falcão e latino, os cantores? Roberto Carlos? Reginaldo Rossi? Wando, o obsceno? Não adianta, isso que você pensou, seja lá o que for, já perdeu feio dos filmes indianos em qualquer escala de comparação. Alguns vão pensar em baranguices típicas como “bolerões acougueiros”, duplas sertanejas, literatura barata de romance vendida em bancas - tipo Sabrina ou Júlia – ou então vão lembrar da secretária doméstica suspirando ao ouvir aquele embalo quente no radinho de pilha, lembrando do amado na gafieira do domingo. (Falando nisso tem ainda) Domingão do Faustão, Gugu liberato, Sílvio Santos, novelas mexicanas, decoração de casa de avó. Podem ainda lembrar da breguice da juventude: Menudos, Dominó, Polegar, New kids on the block e agora ainda tem um tal de KLB,mas mesmo assim,de nada vai adiantar, por mais que você pense, por mais que se esforce, nunca vai conseguir imaginar algo mais barango do que os filmes indianos.

Se você vê a cara dos galãs destes filmes, principalmente no momento em que lançam aquele inconfundível olhar para as mocinhas e começam aquelas danças insuportáveis, juro que vão me entender. Só de pensar nas danças ARRGHH! - pausa para um ataque de fúria – chego a perder o controle. E o pior você não acredita, pois aparentemente todo o enredo (se assim pudermos chamar) se desenrola como um pretexto para essas danças. A luta entre o bem e o mal, mocinho e vilão, o romance entre galã e mocinha, tudo acaba em dança, onde todos com jeito de zumbis-robôs e cara de retardados se entregam ao ritmo daquelas dancinhas saltitantes e cheias de mãozinhas, sorrisos e olhares. Um pastiche surrupiado dos mudras e drishtis das riquíssimas danças tradicionais indianas.

As histórias ( se assim pudermos chamar ) são sempre as mesmas, simplórias, sem nexo, onde um imbecil bonzinho luta com outro imbecil mauzinho por uma moça abobada (parece o desenho do Popeye).

O homem que é considerado o maior ator de todos os tempos na Índia – não me recordo o nome – é o maior canastrão que já vi, uma mistura de Tarcísio Meira, Francisco Cuoco e Toni Ramos – SOCORRO! E ele é uma espécie de Deus por lá, uma unanimidade. É incrível como todo o país em massa, todas as classes assistem cinema, e talvez seja essa lavagem cerebral a culpada de todos os problemas da Índia, ao invés da superpopulação ou de séculos de exploração imperialista. Onde houverem jovens juntos, pode esperar, vai haver um maldito celular – ainda bem que não são aqueles aparelhos de som enormes e insuportavelmente alto dos barangos daqui – tocando os hits dos filmes e vários rapazes dançando alegremente, se exibindo como numa competição, para todo mundo ver, mesmo quem não queira. E dá-lhe Michael Jackson de Mumbai, e dá-lhe Rick Martin de Kolkata, e dá-lhe Sidney magal de Rishikesh. Se você for a Índia, inevitavelmente vai ver pelos próprios olhos.

Sendo assim, você que tem aspirações espirituais e pensa em ir para Índia em busca de um guru, ou de retiro espiritual, esqueça essa idéia, ao invés disso faça uma excursão pelos estúdios de Bollywood e depois se interne numa mostra de filmes deste tipo de cinema. Se você resistir aos filmes e conseguir sair ileso, o mundo ocidental vai ganhar mais um mestre iluminado.

Agora deixa eu parar de escrever e lembrar, antes que eu tenha um acidente cerebral vascular.
O panteão dos Deuses de Bollywood

PS1: Não tentei e não consegui assistir mais que dez minutos, mas uma vez tive que ver umas cenas constrangido por estar na casa de pessoas indianas. O pior, é que por mais que os filmes pareçam uma comédia pastelão non-sense caricata de quinta categoria, você não pode rir, mesmo que a família inteira esteja hipnotizada e balançando a cabeça sem poderem se controlar.

P.S2: É desesperador pensar que são gastos milhões – muitos mesmo - de dólares com esses filmes num país que é miserável, sendo que em países ao redor – como o Irã e Afeganistão por exemplo – conseguem produzir filmes sensíveis, belos e criativos com míseros dólares. E olha que a Índia é uma terra de artistas natos, de gente talentosa, onde a dança e a expressão teatral é milenar e uma arte bela e rica. Mas é uma questão de total falta de noção mesmo, os filmes do mundo inteiro chegam por lá, mas eles são ufanistas em relação à isso e preferem sempre o produto da casa.

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